Solo

Quando comecei minhas trilhas eu simplesmente não tinha com quem ir ou a agenda dos meus amigos não batia com a minha. Mesmo se nós encontrassemos boas oportunidades em sites como Fly.com, ou em algum outro lugar, não adiantaria pois a agenda continuaria não conciliando. Não aceitava deixar de me aventurar por causa dos outros, […]

por em 27/Nov/2009
Revisado por: Vê Mambrini

Quando comecei minhas trilhas eu simplesmente não tinha com quem ir ou a agenda dos meus amigos não batia com a minha. Mesmo se nós encontrassemos boas oportunidades em sites como Fly.com, ou em algum outro lugar, não adiantaria pois a agenda continuaria não conciliando. Não aceitava deixar de me aventurar por causa dos outros, então enfiei o mochilão as costas e saí trilhando por aí. Em qualquer manual de aventura, vai estar estampado em letra de forma “nunca aventure-se sozinho“, seguida de uma lista gigante de pontos positivos para se trilhar em grupo. Neste post vou na contramão. Direi as vantagens de “solar” e contarei a minha experiência sobre esse polêmico modo de excursionar da qual continuo sendo adepto.

Segurança

É a primeira coisa sobre a qual algumas pessoas perguntam e outras bradam contra. É comum nestas horas eu questionar o conceito de perigo, especialmente para que mora numa grande metrópole. No agreste temos um risco controlado: eu sei como uma cobra se comporta, eu só vou quebrar a perna se eu inventar de pular de um penhasco e só vou morrer afogado se eu me jogar num rio sem saber nadar. Pense bem, você está sozinho no meio do mato, vai mesmo ficar se arriscando? Você certamente será (muito) mais cuidadoso ao saber que, ao mínimo erro, poderá não voltar nunca mais para casa. Se você tem consciência dessa fragilidade, a viagem será paradoxalmente mais segura. Comece então com roteiros fáceis e não tenha vergonha em voltar para casa sem cumprir o trajeto completo. Você precisa ter 200% de certeza que é capaz de fazer aquele roteiro. Já voltei várias vezes pensando que é bom estar vivo para tentar novamente. Aprendi isso nos livros de alta montanha que contam histórias de desastres com mortes por pura ambição. E não é gostoso explorar? Se seu roteiro não deu certo, a sua viagem certamente deu. O objetivo tem que ser ir, e não chegar.

Acampado numa pedra em uma cachoeira

Acampado numa pedra em uma cachoeira

Solidão

Além do fator segurança, algo que as pessoas me questionam bastante é sobre a solidão. Muitos já me disseram que não suportariam ficar só. É bem mais simples do que parece, pois há tanta coisa para se fazer! Na viagem solo você precisa se virar: armar o acampamento, cozinhar, lavar a louça, fazer café da manhã, fechar a mochila. Não tem moleza. E nisso também não sobra tempo para quase nada: meu maior arrependimento é quase nunca escrever em meu diário ou perder ótimas oportunidades de foto (confesso que uma camerazinha point-and-shoot às vezes faz falta). Muitas vezes você está com a agenda apertada ou cansado demais para essas atividades. Somente sobra tempo se o clima lhe impede de sair da barraca ou se você fez uma pausa estratégica de um dia a mais no meio de uma expedição maior.

Milhares de coisas para fazer pela manhã

Milhares de coisas para fazer pela manhã

Quando fiz meus primeiros solos, não estava acostumado a ficar tão só. Durante a caminhada eu elegia algum amigo ou a namorada que ficou em casa como compania imaginária, e bolava conversas pois não conseguiria ficar em silêncio. Achava que estava ficando louco, paranóico, mas com o tempo aprendi a ficar realmente sozinho. Hoje eu não converso com mais ninguém, a não ser comigo mesmo. Sei o que é estar só, e apesar do peso desta palavra não é algo ruim. Estar só é necessário. Nosso modo de vida impõe muita interação social; mas para estar em sintonia com as demais pessoas você precisa estar em sintonia consigo mesmo. E, para mim, só a imersão em uma viagem solo pode proporcionar isso.

Uma das poucas vezes em que escrevi no meu diário

Uma das poucas vezes em que escrevi no meu diário

Interação

O parágrafo acima foi escrito considerando um solo para um trilha isolada. Mas considerando-se os momentos em que há algum sinal de civilização, ou mesmo para as viagens solitárias em ambientes mais frequentados, a interação social é muito maior. Explico-me: quando sozinho você invariavelmente irá conversar mais com as pessoas ao redor, especialmente os habitantes locais. A necessidade de conversar é maior e isso abre algumas portas. Quando você está num grupo de pessoas nem sempre há essa oportunidade.

Fazendo amizade com a criançada da comunidade de pescadores de uma praia isolada

Fazendo amizade com a criançada da comunidade de pescadores de uma praia isolada

Baixo impacto ambiental

Essa é indiscutível: sozinho você quase não fará barulho, suas pegadas serão menores assim como a área de acampamento e vai gerar menos lixo. Só é necessário mais atenção pois é mais provável que um animal não te veja; então atenção redobrada.

Imersão

A experiência como um todo é amplificada. Você presta mais atenção em cada detalhe pois você precisa estar atento, afinal, você está sozinho. A noite prestará mais atenção nos barulhos da mata, ficará atento a pegadas de onça ou ao rastro de uma cobra. Lembre-se que corujas adoram pregar sustos, especialmente à noite.

Embrenhando-me na mata

Embrenhando-me na mata

Autoconhecimento

Lá estava eu subindo uma trilha na Serra do Mar. Logo a frente, vi algo se mexendo e logo concluí que era uma pessoa me esperando. Parei, gelado. E a pessoa ali ao longe, mexendo-se e me aguardando. Eu queria correr, mas se eu o fizesse com trinta quilos de equipamentos nas costas certamente seria alcançado. Não podia largar minha mochila com tanto equipamento comprado com sacrifício no meio do mato e sair correndo. Mesmo se eu o fizesse, ao chegar na civilização, como iria explicar? Que eu saí correndo de medo do meio do mato? Então decidi seguir em frente. Descobri que era um galho se mexendo. E olhando logo mais a frente, também parecia haver uma pessoa. E percebi que meu cérebro se dividia em dois: uma parte assustada, que transformava sombras abstratas em perigos e a outra que sabia que não fazia sentido nenhum ter uma pessoa me esperando ali, no meio da madrugada, no meio do mato. Pude compreender perfeitamente a mecânica de uma alucinação. E pouco tempo depois comecei a analisar as peças que parte de minha mente me pregava. Aprendi a distinguir os medos. Hoje essas alucinações não acontecem mais, às vezes sinto saudades, era divertido.

Percebi também que o cansaço físico atrapalha as decisões. Ao esforçar demais o corpo, fica-se irritado e seu poder de decisão é prejudicado. Saber disso foi muito útil em Paraty, em que um simples descanso de 15 minutos me permitiu ler meu mapa e tomar uma decisão acertada que me tirou de um lugar onde não havia água para passar a noite. Conhecer-se muito bem é uma excelente ferramenta de sobrevivência.

Pausa para descansar e comer uma fruta

Pausa para descansar e comer uma fruta

Introspecção

Se você é uma pessoa espiritualizada, certamente ficará mais. Essa é uma atividade individual que só vai melhorar sua concentração. Os solos me ajudaram em meus sonhos lúcidos, mas só foi possível atingir o nível correto de relaxamento depois de muitas viagens.

Mais um reveillón que passei sozinho no mato

Mais um Revéillon que passei sozinho no mato

Iniciando

Essa não é uma atividade bem compreendida, então não espere apoio de ninguém. As pessoas com as quais irá conversar no caminho (ou mesmo antes da viagem) não vão compreendê-lo e (por uma razão muito nobre na concepção delas) irão fazer o possível para que não fique sozinho. Um amigo meu certa vez foi me buscar de carro no Dib. Não espere compreensão, apenas vá, se é o que seu coração manda. Converse sobre seus planos com alguém de confiança e deixe seu roteiro e planos de viagem com essa pessoa. Se possível faça checkpoints, em que em determinados momentos você mandará um sinal de ok (SMS é uma ótima ferramenta para manter sua privacidade). Claro que isso depende da disponibilidade de sinal.

Silêncio para contemplar a grandeza da natureza

Silêncio para contemplar a grandeza da natureza

A afirmação que eu precisava encontrei em alguns poucos livros e os que mais me encorajaram foram sobre as viagens transoceânicas solo do Amyr Klink. Há pouco também li o livro da brasileira que atravessou o Atlântico sozinha num veleiro. Certamente há outros bons livros sobre essas histórias de coragem, determinação e planejamento correto.

Se você ainda não está preparado para uma viagem dessas, escolha um lugar bastante seguro que seja possível ir num dia e voltar no outro. No meu caso, há alguns anos atrás, ia na Pedreira abandonada do Dib em Mairiporã. Acampava lá e voltava no dia seguinte. Sem caminhada, sem carregar mochilas cheias de equipas e nem por muitos dias. Apenas um jantar num lugar mais longe. Também era excelente para testar meus equipamentos recém adquiridos: barraca, fogareiro, sleeping bag. Eu também costumava fazer isso para testar a mim mesmo antes de uma viagem maior. Se algo desse errado, não seria uma questão de vida ou morte não dormir ou passar um pouco de fome por uma noite.

Mais uma deliciosa refeição no mato

Mais uma deliciosa refeição no mato

Se você não é tão antissocial quanto eu, poderá se prepapar para o solo nas suas viagens em grupo! Com um roteiro claramente definido, você pode sair com um dia (ou algumas horas) de antecedência aos seus amigos. Se algo lhe ocorrer, a ajuda chegará em breve.

Planejamento é mais do fundamental, é obrigatório. Quais são os principais itens necessários a um solo no mato?

Navegação

No meu primeiro solo, andava com um caderninho de notas e ia anotando todas as bifurcações e pontos relevantes em que passava. Como medida de contingência, num cantinho fora do alcance de visão de qualquer pessoa, fazia uma seta com pedrinhas para o lado escolhido. Caso eu perdesse meu caderninho de notas, teria um backup para fazer o caminho de volta. Sempre me indaguei como que as pessoas se perdem na mata, se para mim era tão natural observar e anotar tudo. Cheguei a conclusão que eram pessoas completamente despreparadas, que estão interessadas somente no barato da trilha sem prestar atenão no próprio caminho. Com isso, defendia mentalmente a segurança da caminhada solo.

Solo no Morro do Pinga que eu nunca consegui concluir

Solo no Morro do Pinga que eu nunca consegui concluir

Logo no meu segundo solo passei a usar carta topográfica, bússola e GPS, estudados previamente em casa. Hoje eu sugiro ler o tão citado livrinho de orientação do Sergio Beck ou qualquer outro bom livro a respeito (que não fale somente de GPS, mas de navegação como um todo). Na época era tudo emprestado, mas hoje é bem mais barato adquirir um GPS e uma boa bússola. Tenha sempre a carta topográfica do local explorado e lembre-se que no meio da mata não há postos de informações turísticas e que você depende unicamente de… você mesmo!

Equipamento

O equipamento adequado é caro, mas é ele que vai permitir você ir mais longe. E, obviamente, adquirir qualquer equipa requer horas de estudo e alguns testes de campo. Já usei meus bastões de caminhada na cidade e fiz janta com meu fogareiro. Nunca use nada pela primeira vez na viagem! Lembre-se que sua vida depende de uma headlamp, fogareiro ou isolante térmico. Seus equipas precisam ser os mais confiáveis possívels. Improvisação será necessária em algum momento, então não improvise com equipamentos que requerem confiabilidade. E leve alguns itens para manutenção, como silvertape, uma cordinha resistente e abraçadeiras plásticas.

Em Paraty, 5 dias de solo e record em excesso de peso

Em Paraty, 5 dias de solo e record em excesso de peso

Um recurso interessantíssimo que está na minha lista de aquisições é um localizador. É um aparelho com quatro botões: liga/desliga, ok, não-ok e socorro. Ele é um GPS com um transmissor via satélite que durante a jornada você vai mandando sinais de ok. Quem está acompanhando sua viagem remotamente poderá ver no Google Earth os pontos exatos pelos quais está passando e se você mandar um sinal de não-ok, essa pessoa poderá tomar atitudes previamente combinadas, sabendo exatamente sua localização. Recurso indispensável ao solista.

Plano de contingência

Sozinho na mata, não dá para chorar e pedir para sair. Se algo der errado, você terá que achar uma solução. Para cada decisão que você tomar, terá que pensar o que fazer se esta estiver incorreta. E nada de improvisações, o plano de contingência deve ser sólido. A técnica das pedrinhas citadas acima é um excelente exemplo.

Chuva lá fora e eu sequinho aqui dentro

Chuva lá fora e eu sequinho aqui dentro

No meu último solo, tive que pular de uma cachoeira em um cânion de onde certamente não teria como voltar dado a altura de suas paredes. Eu ralhei comigo mesmo pois sabia que não havia contingência ali e eu teria que seguir em frente. Mas logo a frente havia outra cachoeira gigante (80 metros) que não era possível pular. Minha sorte foi saber navegação, me embrenhar na mata e conseguir voltar a base da primeira cachoeira. Foi sorte, não planejamento. Não cometa o mesmo erro.

Fique de olho em quanto de luz do dia ainda há disponível e 3 horas antes de escurecer comece a observar locais passíveis de acampamento e esteja com suas reservas de água cheias. Não se sinta incomodado em não atingir determinado ponto no dia desejado (como uma praia ou topo da montanha) e curta seu acampamento forçado, descanse. Já acampei desta forma inúmeras vezes e foi bem gostoso acordar no meio da mata fechada, devidamente descansado e apto a tomar boas decisões.

Acampamento forçado. Mas não tão forçado assim

Acampamento forçado. Mas não tão forçado assim

Serenidade

Render-se ao desespero é o fim de tudo. Em um solo a situação é mecânica: simplesmente não dá. Lembre-se da história que contei acima, das sombras que pareciam uma pessoa. Sim, eu me borrei de medo, mas simplesmente não havia o que fazer. Fui obrigado a enfrentar a situação. E enfrentando esses pequenos desafios que eu pude me treinar para ser mais calmo.

Em caso de problemas, a primeira coisa que você precisa perguntar é “quanto tempo eu tenho disponível para tomar uma decisão?” Quanto mais tempo você tiver para ponderar, mais acertada será (mas não necessariamente correta). Dependendo da sua quantidade de tempo, você até pode sentar e comer uma barrinha de cereal para pensar sobre o assunto. Se você se enfiou numa situação em que você tem segundos para decidir, e saiu vivo, é hora de começar a prever melhor essas situações. Esbravejar e sair cortando a mata toda no facão não resolve nada, só prova que você é macho bagarai. As soluções quase sempre têm que ser intelectuais, pois esforço você já está fazendo carregando aquele monte de tralhas.

Nível avançado

Com a experiência a coisa fica divertida. Já não há mais tanta insegurança nas decisões tomadas, passa a ser natural estar sozinho e a noite você não fica paranóico com os barulhos da mata e dos animais silvestres ao seu redor. Planejará viagens mais longas e belas, com risco relativamente baixo e conseguirá aproveitar e até mesmo gostar de coisas que o aterrorizavam (como o barulho de uma árvore ao cair a noite). Aprenderá a ser honesto consigo mesmo e respeitar-se. E quando isso ocorrer, perceberá que passou a respeitar muito mais a tudo ao seu redor.

“Quando o homem está só diante da grandiosidade da natureza é que ele está verdadeiramente nú”

Bons solos!

:,

45 comentários neste post

  • Rodrigo Stulzer

    Nem todas as pessoas entendem como é bom ficar sozinho de vez em quando.

    Abraços!

    • Lex

      E nem é por culpa delas: somos levados a crer a vida toda que estar sozinho é péssimo. E isso não é verdade, mais do que isso, acho necessário.

      abraços!

  • Fabrício Souza

    Simplesmente um manual de como acampar e fazer trekking sozinho.

    Parabéns!

    • Lex

      Exatamente! Porque conforme a minha crítica que os manuais de aventura dizem para não fazer solo, não podemos ignorar que há gente que faz e gosta. E se é para fazer, então vou repassar toda a minha experiência para que o solo de todo mundo seja melhor e mais seguro!

  • Ila Fox

    Confesso que não curto muito estas paradas de acampamento. Mato, insetos e pouco conforto não é comigo, hehe.
    Apesar de tudo, gosto de ficar sozinha, não me sinto mal com isso.
    Gostei do blog e da maneira como escreve! parabéns.

    • Lex

      Ila, fico feliz que este artigo tenha sido tão abrangente a ponto de você ter gostado de um post sobre camping sem gostar de camping. No seu caso, seria interessante fazer viagens sozinhas para lugares legais. O que eu fiz bastante foi ir para o litoral e me hospedar o final de semana todo numa pousadinha (sempre ia para Itanhaém). Paz de espírito garantida!

  • Leo

    Cara, vc sabe que eu era um dos que te chamava de louco quando vc falava dos seus solos, mas hoje em dia me acostumei totalmente com a ideia, só pelo convívio. Concordo totalmente com o seu ponto: a questão é o risco calculado; saber o que significa fazer um solo e alterar o comportamento de acordo.

    E você não é antissocial, só excêntrico! ahahahaha

    Sobre ficar sozinho, aí temos uma leve divergência. Eu acredito na necessidade de saber estar sozinho,mas não de estar sozinho. Além disso, acredito em diferentes formas de chegar à mesma realização sobre solidão: você pode estar sozinho, mas cercado de pessoas.
    Mas claro que isso tudo não tem nada a ver com a parte prática de estar sozinho, saber se virar de forma 100% independente. Essa parte do aprendizado realmente só na base do solo!

    De qualquer forma, acho que no meu projeto de vida atual, tô sabendo quase tanto quanto vc sobre estar sozinho… só não tô no mato! 🙂

    Finalizando: certamente um dos teus melhores posts até agora!

    • Lex

      Você não era o único a me chamar de louco, como eu disse no artigo todo mundo sempre me desencorajou. E a idéia desse artigo foi justamente ir na contra-mão disso tudo e estimular quem quer fazer a efetivamente fazer, mas sem precisar passar pelos perrengues que eu passei, indo melhor preparado.

      Não dá para imaginar como é sua vida solo aí na branquelolândia, assim como você ainda não sabe a sensação de um solo na natureza (“Into the Wild”). São experiências somente passíveis de entender vivenciando-as, e por mais que livros e relatos sejam bem narrados, a experiência real é insubstituível. Mas aqui já estou eu concordando contigo novamente.

      muito obrigado! fortes abraços…

  • André Guilles

    Cara vc precisa assistir um filme dos anos 70 chamado Deliverance, com o pai da Angelina Jolie, acho que é o John Voight.Este filme é obrigatório pra quem gosta de aventuras, além de tratar dos perigos, trata da questão filosófica do aventureiro. Pessoamente, eu sou contra a idéia de entrar na mata sozinho, já vi muito corpo sendo resgatado e a família sofre pra caramba, acompanhado já é perigoso em termos de bandidos principalmente, sozinho então. No Brasil acho que é tentativa de suicídio.
    Me chama cara eu trabalho em casa, e tenho diversos camaradas que trampam em casa, temos os horários bem flexíveis. Forte abraço.

    • Lex

      O mais engraçado é que eu tenho a trilha sonora deste filme, e você é a segunda pessoa que me indica para assisti-lo. Pronto, está na lista! Assim que eu acha-lo na locadora (ou um torrent) eu assisto! O filme Natureza Selvagem (Into the Wild), escrito e supervisionado pelo lendário montanhista John Krakauer dá uma noção muito boa sobre o estilo de vida solo/beatnik.

      André, nós discordamos de um ponto do qual eu não vou abrir mão (fazer caminhadas solo no Brasil) e escrevi este artigo exatamente por isso (e é bom que você discorde, o que nos leva a produtivas discussões como essa). Os corpos que você viu sendo resgatados na mata foram certamente oriundos de mal preparo, estudo errôneo sobre o local ou puro descuido. E o meu post foca justamente nisso, em outras palavras: ‘se você vai cometer o ato insano de sair sozinho por aí, pelo menos escute essas dicas’. Quanto ao Brasil, não seja tão genérico… nosso país é muito grande e somente uma parcela muito pequena de lugares muito frequentados que sofrem desse mal (chamado homem). Se você não escolher acampar em Embú-Guaçú (um caso comum que a mídia urubuzou em cima) ou nenhum outro lugar suspeito você certamente não correrá riscos (eu estou aqui vivo e sem nenhuma história traumática como prova). Deveria ter dado algumas dicas sobre a escolha dos lugares (e a primeira regra é: longe de qualquer centro urbano), mas isso é assunto para um post futuro.

      agradeço muito o seu convite e vou aceita-lo sim, mas não em substituição dos meus solos… pois estes definem quem eu sou.
      um forte abraço

  • Carlos

    Muito bom, realmente andar solo é meio perigoso e não nos faz muito popular entre outros aventureiros. Já fiz acampamentos solos e hoje pretendo fazer algumas travessias assim.
    Sempre que vou solo lembro de uma grande mancada que fiz uma vez pulando em um espaço entre duas pedras (cheio de mato e que parecia ter chão firme) so para descobrir que era um vão fundo entre as pedras e eu acabar só não rolando para buraco pois minha mochila ficou entalada (Deus protege os malucos, pelo menos as vezes! heehehhe). Para piorar tava fora da trilha.
    Bom a lembrança hoje fica como alerta e tomo muito mais cuidado hoje em tudo que faço.

    Quanto a solidão realmente não sinto nenhuma, to sempre pensando em muitas coisas e as vezes gosto de narrar e filosofar sozinho sobre oque estou fazendo ali. Diversão garantida e discurso ja ensaiado para quando encontrar os amigos.

    • Lex

      Sabia que conseguiria juntar alguns solistas malucos neste post 🙂 Por isso já o iniciei falando que esta é uma técnica polêmica (dizer que é mal-compreendida só ajuda a aumentar essa polêmica). Você esta coberto de razão em dizer que uma das coisas que o solista precisa é sorte… faltou eu menciona-la no artigo. Sempre fazemos alguma abobrinha, e é claro que eu já cometi as minhas. Esse post foi escrito com base nessas presepadas passadas e por isso foi o artigo mais íntimo que eu já escrevi.

      Um amém para o santo protetor dos solistas malucos 🙂
      E um muito obrigado pela linkagem no NuncaPare!

  • Semina

    Lendo sua postagem tive uma recordação de tudo o que me levou a enfrentar uma caminhada e acampamento solo. Na época (1976), blogs e internet eram apenas imaginação. Mantive durante algum tempo uma espécie de diário com anotações sobre noites de acampamento. O principal desafio sempre foi: enfrentar meus medos! Nunca deixei de acampar com outras pessoas, mas sempre mantenho essa prática: explorar lugares sozinho. É uma ótima experiência para nos manter no eixo.
    Parabéns pelo seu artigo e por suas aventuras.

    • Lex

      Semina!
      Fico feliz que você tenha gostado do post. Seria muito legal você transcrever para o seu blog essas anotações da época, e se possível com uma foto dos manuscritos. Deve ser muuuito legal! E tenho certeza que toda a sua experiência pode contribuir muito para todos nós.
      fortes abraços

  • jeff supertramp

    E aí Lex! Parabéns pelo post (redundância à parte).

    “Introspecção é a palavra”

    Abção

  • Tuca

    Como sempre … MAGNIFICO!!!
    Mesmo estando atado de pes e maos, sem poder sair de casa para iniciar minha viagem que tanto espero……estou feliz por ter conhecido seu blog e viajar por ele.
    Como ja sabe, minhas viagens sempre foram pe-de-frango total….e mesmo sem poder sair de casa me sinto quase um aventureiro profissional so lendo seus post. Este post realmente me levou mais uma vez para o meio da mata … sozinho e com muittoo medo das folhas se mexendo… acho que meu cerebro ainda esta dividido em dois (medo / coragem)…rsrsrs

    Obrigado
    Tuca

    • Lex

      Esse é o espírito do blog, Tuca. Durante a premiação do Peixe Grande (e mesmo no respectivo artigo escrito na revista), o pessoal falou muito que o blog é gostoso de ler. Bem, com tanta gente falando deve ser verdade mesmo :o)
      Estarei sempre me esforçando, especialmente como todo esse incentivo de vocês todos!
      fortes abraços

  • Zé Reynaldo

    Muito boa a matéria, parabéns; eu acampo com mais estrutura, pois sempre vou com filho pequeno, porém sua dicas foram muito interessantes.
    Abs.

    http://dormircomummilhaodeestrelas.blogspot.com/

    • Lex

      Oi Zé,
      Também gostei muito do seu blog, cheio de artigos e referências bacanas. Já esta nos meus feeds!
      abraços!!

  • Waldyr Neto

    Ola Lex, me vi no seu texto. Parabens !!

  • Paulo Nogueira

    Lex, complementando; sempre que vemos corpos sendo resgatados da mata (lembro-me de uma caso em Salesópolis) eram pessoas que: 1º, não tinha equipamentos adequados e 2º não estavam acostumadas a “trilhar” (mesmo sendo pessoas “nativas” da região). Um detalhe, a senhora que veio a falecer, foi de hipotermia…
    Mas… já fiz a besteira de fazer o litoral norte SP sozinho e confesso, o risco foi grande. Tive muita sorte, não fui roubado, mas toda vez que tinha que passar por áreas urbanizadas, o medo era grande (mesmo vestido igual a um mendigo e com mochila velha), pois chamava atenção e fui seguido várias vezes.
    Hoje, solo só por MG…
    Adorei o post, parabéns!

    • Lex

      Paulo,
      Um dos mandamentos do solo (e que deveria estar neste post) é ir para lugares “seguros”: que não tenha muita gente, que não seja urbanizado, que aparentemente não tenha alto índice de criminalidade. EU sempre escolho lugares assim para os meus solos. Cagadas acontecem de todo o jeito, em turma ou sozinho. Discutir segurança não tem nada a ver com ir em mais de uma pessoa, e isso é muito difícil de entrar na cabeça de todos.
      obrigado, abraços!

  • Marvin

    … a foto dentro do tunel, na Funicular é espetacular … quero voltar antes que as pontes caiam .. kkkkk

  • Maycon

    Olá Amigos, estava buscando no solo, justamente informações que complementar o solo que estão programando e partindo amanhã para faze-lo, na chapada diamantina, bahia.

    Achei muito interessante as colocações dos comentários e acredito que é muito importante estudar sobre o tema.

    Particularmente pesquisei muitos videos no youtube e artigos em geral antes de partir para a aventura.

    Um documentário muito interessante chama-se “A prova de tudo” onde uma pessoa é literalmente jogada em meio de desertos, matas fechadas ou geleiras, buscando meios de sobreviver apenas com uma faca e uma pederneira (instrumento que faz fogo em qualquer condição).

    Você também pode ver dicas desde como transportar agua sem cantil usando uma camisinha até como fazer uma panela com papel aluminio. Muito bom. Vale a Pena.

    Agradeço as dicas, ficarei fora 1 mes, quando voltar trago alguma novidade pra vocês.

    Um grande abraço
    Maycon de Oliveira

    • Lex

      Olá Maycon,
      Conheço bem o A Prova de Tudo, bem como o Survivorman e são excelentes programas, altamente recomendados.
      Estive na Chapada Diamantina há pouco tempo e adorei o lugar, achei excelente para fazer um solo!
      aguardo notícias suas quando voltar
      abraços!

  • Thiago

    Parabéns pelo blog!
    Me sentí vendo um filme ou lendo um livro, as situações descritas criaram várias imagens na minha mente e me deu muita vontade de praticar o SOLO.
    Gostei das dicas de cuidado e precaução também, muito completo o texto.
    Abraço

  • Henrique Baêta

    Olá Lex, mto show seu blog cara, to lendo desde cedo cara (10:30 – 12:30).

    E achei demais esse post, vc relatou com virgulas e pontos exatos o q eu faço a algum tempo, aventura solo!

    Hj em dia ta dificil de fazer isso, tenho feito apenas 1 vez ao ano, e em local próprio p camping. Minha namorada estressa demais com essa idéia.

    Valeu!

    • Lex

      Henrique, já tive uma namorada que também estressou com isso. E eu penso o seguinte: se o esporte está atrapalhando o relacionamento, ou o trabalho, ou a família é hora de parar. Para com o relacionamento, com o trabalho e qualquer outra coisa que impossibilite o esporte 😉

  • Leonardo

    Fala Lex! Engraçado, falo com vc como se o conhecesse… Sou o Léo de Niterói-RJ e tenho 35 anos. Show de bola o seu blog e, principalmente, esse post. Sempre gostei da ideia de fazer caminhada solo, mas nunca tive a coragem de fazer. Acho que agora vai! Minha esposa não curte muito a ideia. Não sei como vou convencê-la disso, mas vou tentar. Com certeza seguirei muitas de suas dicas. Obrigado e parabéns novamente pelo blog…

  • Carla Franzan

    Meu heròi!
    Lembro me de cada vìrgula que contavas à respeito de suas “odisséias no mato”!

  • Thiago Ferraz

    Cara,

    que post incrível esse seu rapaz…
    me dá frio na barriga só de ler..

    apesar de acampar há algum tempo, uns 9 anos, eu ainda não tive coragem de “solar” por aí…

    acho que não tenho organização e disciplina como você!rs

    e fora o conhecimento técnico, pois, tudo o que eu possuo aprendi na marra ao subir picos, travessias etc..
    Como faço para saber mais de cartas topográficas, gps??

    de qualquer forma, parabéns, seu blog é foda!!

    e te digo mais, meu estado eh um parque de diversão para aventureiros!!Salve Minas Gerais!!

    Grande abraço!

    • Lex

      Este é um dos posts que eu mais gostei de escrever, Thiago. Solar não requer tanta disciplina assim, apenas cuidado e você com sua experiência certamente pode dar uma arriscadinha qualquer hora dessas. Aliás: deve, especialmente pelo seu parque de diversões 😉

      Para saber mais sobre cartas topográfica e GPS, compre o livro Guia do Excursionista Perdido do Sergio Beck, Meu Primeiro GPS de André C. Gurgel e o meu post no blogus, claro.

      abração!!!

  • Cissa

    Legal Lex, realmente além de impressionante é bem louvável essa capacidade e coragem de sair por aí. Minha dúvida é se vc já conheceu alguma mulher que vai nessas, e qual o relato dela. Não que o seu não seja bem completo – é bastante, mas o ponto de vista de mulher é sempre diferente. Já viajei sozinha em áreas urbanas e lugares relativamente turísticos, mas nunca me embrenhei em lugares inóspitos sozinha, apesar de ter isso como objetivo. Algum insight?

    • Lex

      Olá Cissa, que bom que tenha gostado do texto. É um dos meus prediletos.
      De fato, a percepação de vocês é mesmo diferente. Sim, existem mulheres solistas mas com poucos relatos: Carol Emboava (cicloviagem e trekking) e Verônica Mambrini (cicloviagem) são as mais próximas que eu conheço, mas tenho leitoras que me contaram suas experiências por aí. Há algum tempo atrás procurei solistas mulheres para escrever um artigo exatamente com a ênfase que você quer, mas acabou rendendo apenas um (excelente) post da Vêve. Quem sabe você não possa me ajudar?

      • Cissa

        Lex, tenho várias viagens-treino programadas esse ano em PNs, mas dependo de receber meu GPS pra tocar os planos com mais segurança. De qualquer maneira, se forem experiências boas, com certeza escreverei sobre elas e aviso vc. Obrigada pelos links!

  • Bruno

    na segunda feira tb partirei sozinho e o q vc escreveu já ajudou e me alertou bastante.. vlwww

  • Rodrigo Rey

    Encontrei seu blog ha alguns dias atras, e ao longo de seus textos aprendi muito, ri muito e me conscientizei muito…
    Mas de longe esse é seu texto mais emocionante.
    Nunca imaginei um Lex topa-todo-por-aventura falando sobre sonhos lúcidos, autoconhecimento e introspecção. Você me deu uma nova luz sobre o ato de viajar, e um novo tempero para um buscador (até ontem) eminentemente urbano.

    Ah, também me convenceu que ovos, bacon, tempero e massa de pizza são a prova de que a rusticidade do trekking tem hora pra começar… e hora pra terminar. Não existe equipamento de desgaste tão precoce quanto a moral o aventureiro: ela exige sempre manutenção preventiva e reforços constantes!

    • Lex

      Legal, Rey! Eu adorei ter escrito este post porque eu solo desde minhas primeiras viagens. A gente vive num mundo cercado de recursos e de gentes e sempre foi uma sensação muito diferente de tudo estar sozinho lá no mato. E uma sensação gostosa. Especialmente se a comida é boa!! abração

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