Tag: Trekking

Akampando

por em 26/Nov/2010, sobre equipamentos e técnicas

Mas que frescura é essa de escrever acampando com k? Bem, é que neste post eu vou falar do conjunto de rede Kampa, item que substituiu com honras as minhas barracas solo. Claro que este post não vale somente para esta marca de rede, mas qualquer uma de material sintético e com um toldo para chuva que possa ser utilizada em viagens de aventura. Tá sem grana? Tá bom, pode usar uma rede convencional de algodão com um toldo prástico por cima que também serve. Mas não reclame do peso depois (e nem que foi chamado de pé-de-frango)…

Vê Mambrini curtindo um livro na rede Kampa
Existe uma rede melhor que a internet ? ver esta foto ? ver álbum completo

Se você é brasileiro, sabe muito bem como uma rede funciona. Um apoio de cada um dos dois lados numa distância adequada, e voilá, você já pode ter um sono tranquilo. Mas no mundo outdoor precisamos de alguns acessórios, como um toldo para o caso de chuva e um mosquiteiro para lugares com muitos insetos. E o kit Kampa tem todos eles. O único acessório que eu não gostei foram os ganchos: é bem melhor comprar uma fita tubular de escalada e um par de mosquetes. Se você for seguir este conselho, compre uma fita um pouco comprida, pois nem sempre você acha uma distância ideal entre os pontos de apoio. Outra customização que eu fiz foi no toldo, cujo nome é Tarp Oca: troquei todos os cordõeszinhos originais por elásticos tubulares de 2mm, pois funcionam muito melhor.

Upgrades na rede: mosquetão de escalada, fita tubular e elásticos
Upgrades na rede: mosquetão de escalada, fita tubular e elásticos
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No mato, é muuuito mais simples do que a barraca. Com esta última você precisa ficar “pescando” uma boa clareira para acampar. E precisa pensar no tamanho do chão da sua barraca também. Lugares inclinados, ou com chão de pedras, nem pensar. Mas com a rede, seus problemas acabaram! Qualquer cantinho com duas árvores equidistantes é o suficiente para você poder acampar tranquilamente. Bem, é mais confortável ter um chão liso e uma pequena clareira, especialmente para fazer o jantar, mas se você gosta de se enfiar no meio do mato sem ter certeza de onde vai passar a noite, é o equipamento certo. Por outro lado, é o equipamento errado se você vai para um lugar desprovido de árvores, como topo de montanhas.

Rede entre as rochas, em um cânion
Espaço para barraca, aqui? Nem pensar ? ver esta foto ? ver álbum completo

Mais uma vantagem: seu peso e volume. Como não há varetas, você só tem que carregar os elegantes pacotinhos que a rede, tarp e mosqueteiro (cujo nome é Bug Stop) formam, com um bolso especificamente costurado neles próprios para este fim. O conforto é incomparável (leia o box no final desta página).

Ao contrário do que você pode estar pensando, é necessário continuar levando seu isolante térmico. Ao deitar sobre o saco de dormir, você comprime suas fibras de enchimento e estas perdem sua isolação térmica. Já passei bastante frio achando que não precisaria dele. Se for um destes novos modelos a ar, que pode ser esvaziado e dobrado, menos volume ainda na sua mochila. O da Azteq pode aparecer no mercado com um preço sedutor, mas descola logo nos primeiro uso. O da Decathlon foi uma excelente aquisição. Se você puder comprar um Therm-a-rest, conquistará minha admiração.

Lex deitado confortavelmente em sua rede
Se liga no pézinho do lado de fora ? ver esta foto ? ver álbum completo

Montar uma barraca debaixo de chuva é uma operação detestável. A barraca ficará toda molhada, e arrastar o equipa para dentro piora a situação. Com a Kampa essa atividade é um pouco menos traumática: monte primeiramente a Tarp Oca, e terá uma área coberta para terminar de montar todo o acampamento, protegido do toró. A rede ficará sequinha. Quer dizer, se você montar algo errado ou pegar uma chuva de vento pode se dar mal. Na Chapada Diamantina passamos alguns perrengues por conta disso, numa noite tivemos que acordar e fazer uma gambiarra com os cobertores de emergência e silvertape. No dia seguinte, o Celso, que teve seu sono interrompido porque sua rede estava encharcada, me acordou xingando o projetista da Tarp. Enquanto isso, eu dormia todo encolhido porque metade da minha rede molhou. Kampa, por favor aumente o tamanho da Tarp!!!

Celso arrumando o equipamento debaixo da Tarp Oca
O Celso não estava com cara de muitos amigos naquela manhã após a chuva
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Aproveite e compre uma lona plástica para colocar no chão, pois, ao contrário de uma barraca, não há espaço para guardar o equipamento. Essa lona vai te ajudar a organizar tudo, trazer maior conforto e segurança para cozinhar a noite e também facilitar o fechamento da mochila na manhã seguinte, especialmente em lugares cujo chão é de pedras. Escolha uma lona com ilhóses nas beiradas, porque você também poderá amarrar num galho com cordins um pacotão contendo todas as tranqueiras, para evitar que algum bicho ousado roube algo (já aconteceu comigo, mais de uma vez).

Equipamento sobre as pedras
Droga, onde foi parar o isqueiro?
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Em teoria, as redes suportam até 150 kg. Se você quer dormir com a namorada(o), e se a soma de vocês dois é acima disso, pode ser um problema. Bem, o Palmieri, meu querido amigo criador da rede, disse que nunca recebeu para manutenção uma rede que estourou por excesso de peso, e que é bem improvável que ela arrebente. Outra observação é onde você vai montar a rede: escolha árvores parrudas, com mais de 30cm de circunferência. Árvores mais finas vão entortar e você vai encostar no chão. Um fato chato é ter que ficar testando se a rede está numa altura adequada. Às vezes é necessário esticá-la tanto que ela fica na altura do peito, e subir nela pode se tornar uma cena hilariante. Máquinas fotográficas à postas nessses momentos. Quanto a Tarp, eu gosto de esticá-la sobre um varal feito de cordim resistente, isso me permite pendurar coisas como pote de água ou headlamp no teto com o auxílio de mosquetinhos simples. Se você souber nós, especialmente o prussik ou marchard, vai se dar bem.

Equipamento pendurado na cordinha do toldo
Está com sede ou quer a headlamp? Basta esticar a mão
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Falando de pendurar, eu testei essa rede em altura: 30 metros, na pedreira abandonada onde eu escalo em Mairiporã, o famoso Dib. Adaptei o fogareiro para funcionar com segurança e pude fazer uma simulação de big-wall, que é uma técnica de escalada de grandes paredes, em que se leva mais de um dia para completar a escalada. Rapelei, instalei a Kampa com a ajuda de cordas e protegida por um teto de pedra. Cozinhei ali mesmo, e no dia seguinte desci. Dormi pouco porque não conseguia me conter de felicidade de estar deitado confortavelmente, pendurado ali no alto de uma montanha, e também para ver se tudo continuava no lugar. Pena que não tenho fotos disso, mas pretendo fazer mais vezes.

Celso em sua rede na casa de máquinas
Adequada para situações indoor também ? ver esta foto ? ver álbum completo

Existem dois modelos de rede, a rede Adventure e a rede Joy. Esta última é um lançamento recente e eu ainda não pude testá-la, mas gostei das mudanças. O conjunto Kampa é vendida nas melhores casas do ramo, e seus preços são os seguintes:
? Rede Adventure (que ilustra este post): R$84
? Rede Joy (aparentemente a melhor opção): R$74
? Tarp Oca (indispensável): R$174
? Bug Stop (somente se onde você for insetos forem um problema): R$93
(fonte: Mundo Terra)

O conjunto Kampa roubou a cena das barracas e cada vez que a uso, gosto mais (apesar do perregue na Chapada Diamantina). É leve, prática, confortável. Dê uma chance à ela também e você vai mudar sua forma de acampar.

Boas aventuras!

Sobre a rede de dormir…

A primeira citação nominal em português da rede de dormir foi feita em 27 de abril de 1500 pelo escrivão da frota portuguesa, Pedro Vaz de Caminha, na ocasião em que o Brasil foi descoberto. Segundo consta em seus relatos, os índios dormiam sobre redes altas, atadas pelas extremidades. De acordo com os registros recolhidos até hoje, as redes possuem o copyright sul-americano.

O nome ?rede? foi dado pelos portugueses. Os índios a chamavam de ?ini?.

?A cama obriga-nos a tomar o seu costume, ajeitando-nos nele, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso corpo. A cama é dura, parada definitiva. A rede é acolhedora, compreensiva, ondulante, acompanhando, morna e brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga e as novidades imprevistas do nosso sossego. Desloca-se, incessantemente renovada, à solicitação física do cansaço. A rede colabora com a movimentação dos sonhos. Entre ela e a cama há a distância da solidariedade à resignação?

Luis da Camara Cascudo, Rede de Dormir: uma Pesquisa Etnográfica.
2ª ed. São Paulo: Global, 2003(via site da Kampa)

Infográfico

Update: adicionado o infográfico que concentra de forma visual as técnicas descritas neste post. Para imprimir e colar na parede, junto com os equipamentos.

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