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Aventuras na Serra de Paranapiacaba
por Lex em 12/Dec/2007, sobre relatos
Há algum tempo que estava marcando um safári fotográfico ferroviário com meu grande amigo Carlos Latuff. Além de palco de boa parte dos meus sonhos (sonho com caminhadas em Paranapiacaba pelo menos uma vez por mês), o lugar é simplesmente lindo. É lamentável que um governo corrupto, que não investe na óbvia solução ferroviária no nosso país e uma empresa privada voltada somente aos lucros (MRS, nesse caso) fazem com que a maravilhosa Serra de Paranapiacaba acabe sendo um quintal cercado, protegido à bala.
Explico minha indignação: já tentei fazer a coisa como manda o figurino. Há alguns anos liguei na MRS, expliquei tudo tim-tim por tim-tim a eles, sobre a minha paixão por trens, fotografia e a exuberância da Serra, mas além da truculência do atendimento, foi vetada como insanidade minha vontade de participar de uma viagem lado-a-lado com o maquinista. Mas quem disse que isso é limitação? A tecnologia, cara-de-pau e espírito de aventura estão aí para isso.
Em tempo, o que queremos saber é da viagem e não vamos mais perder tempo.
Saímos às 3:30 da manhã de casa, na região da Paulista. O primeiro trem para Rio Grande da Serra parte às 4:00. O roteiro para chegar à Paranapiacaba é o seguinte:
1. Trem da estação da Luz à Rio Grande da Serra às 4:00
2. Ônibus de RGS à Paranapiacaba, cujo primeiro é às 4:30
Ainda na escuridão da madrugada, adentramos na mata. Eu conheço muito bem a cadeia de montanhas ali, já acampei e trilhei por toda a região. Além disso, nosso suporte tecnológico contava com:
1. GPS com demarcação dos pontos relevantes e da ferrovia vetoriada, carta topográfica do terreno e bússola
2. Lanterna led movida à dínamo (dispensa pilhas)
3. Câmeras fotográficas (minha Sony Cybershot F717 e a do Latuff, uma… xi, esqueci. Me passa qual é, Latuff)
Na Serra de Paranapiacaba existem duas linhas de trem, que descem a serra paralelamente: uma ativa, com sistema de cremalheira, e outra completamente abandonada, apodrecendo em meio à mata, ainda em sistema funicular. Nosso objetivo era explorar essa linha abandonada, pois afinal, a ativa é extremamente movimentada, e, é claro, de trânsito absolutamente proibido. Enfim, iniciamos a trilha, seguindo o velho trilho. Após o terceiro túnel, nos deparamos com uma ponte bastante extensa, o que gerou uma discussão polêmica com meu amigo: de um lado eu queria atravessar aquela ponte, com o máximo de cuidado e atenção, e do outro lado o Latuff, que além de não gostar muito de altura, acreditava ser perigosa demais para atravessá-la, pois esta poderia ruir com nosso peso.
Não chegando a um acordo, e com muito bate-boca (mas sem nunca abalar a amizade), a única solução foi descer até a linha ativa, atravessar a ponte desta linha e voltar ao trajeto original.
Assim que entramos na via ativa, uma composição nos surpreendeu: demos de cara com ela. E eles com certeza alertaram a torre sobre nossa presença.
O pensamento foi o seguinte: se nos escondermos, e a próxima composição não confirmar a nossa presença, eles talvez nos dêem sossego achando que somos algum trilheiro perdido na mata. Então nos escondemos no meio do mato, embora nosso esconderijo fosse um tanto precário: além da mata baixa, eu estava com uma camiseta azul e o Latuff com uma camiseta cinza-claro. Não são as roupas mais desejáveis para se esconder no mato. Sem contar a pequena clareira que fizemos ao nos enfiar no mato. Enfim, com a adrenalina a mil, esperando algum guarda descer em nossa busca, ou um auto de linha, ou uma composição deixando algum guarda ali… enfim, estávamos à mercê da sorte.
Só podíamos aguardar no mais absoluto silêncio e imobilidade. E esperar com a adrenalina a mil, numa moita, sujeitos a cobras e escorpiões (embora essa fosse um possibilidade razoavelmente remota) não é algo lá muito confortável.
Mas saber que iríamos carregar aquela experiência pelo resto de nossas vidas não tinha preço. Enfim, continuamos ali até mais duas composições passarem. Em seguida, saímos de nosso esconderijo e seguimos a caminhada. Tínhamos que ficar atento às composições pois locomotivas elétricas são um tanto silenciosas e nos pegam de surpresa. A sorte é que existem pequenos túneis e micropontes para escoamento de água abaixo da ferrovia, então quando vinha uma composição nos enfiávamos lá embaixo esperando ela passar. De qualquer maneira, agora já não mais era possível continuar. Viriam nos buscar. No ponto em que estávamos não dava mais para entrar na mata, pois além de um declive muito acentuado, o rio Moji estava há uma distância razoável. Saímos correndo pela lateral de via ativa. Já não importava muito mais se mais alguma composição nos visse, o tempo que tínhamos era até alguém vir atrás de nós.
De volta à mata, pausa para descanso (afinal não estávamos mais na via, não tinha do que se preocupar). Subimos até o mirante e de lá, além da vista pudemos ver dois policiais da guarda municipal munidos de tronfa e um funcionário da ferrovia indo atrás de nós, serra abaixo. Depois da aventura fomos para a cidade comer alguma coisa e mais tarde voltamos para casa.