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Rumo ao desconhecido
por Lex em 12/Jun/2011, sobre relatos e técnicas
Quando eu era bem pequeno, sonhei que acampava no quintal dos meus pais numa noite de lua cheia. Ficava imaginando porque que eu era obrigado a sempre dormir na mesma cama, dentro da mesma casa. Como seria o mundo lá fora? Como seria dormir numa c
ama que não fosse a minha? Muitos anos mais tarde, descobri qual era essa sensação: liberdade. E desde então não resisti mais a tentação de sair por aí, dormindo no quintal do mundo com minha fiel barraca.
A dúvida inicial de todo aventureiro, muito antes de qualquer equipamento, é para onde ir. Quase sempre a resposta vem com amigos mais experientes, livros de roteiros ou na internet. Há coisa de uns dez anos ainda não tinha tanta gente discutindo isso na internet, eu não tinha tantos “amigos de aventura” e precisava definir um roteiro para realizar meu sonho de dormir coberto de estrelas. Olhei para trás no tempo e lembrei da mística vilinha inglesa no pé da Serra do Mar que eu havia conhecido em uma excursão da 3ª série. Então, com alguns equipamentos essenciais (mochila, barraca e saco de dormir) e um pouco de falta de juízo, toquei subir a Serra do Quilombo. Foi uma noite memorável, podendo ver as luzes do litoral de cima das montanhas.
Voltando à minha infância, ao descer a Imigrantes de carro com meus pais, eu ficava curiosíssimo sobre as estradinhas paralelas que cortavam a rodovia. Ficava me perguntando para onde iam e como seriam. Eu queria muito ter mais tempo de admirá-las do que uma rápida passagem de carro. Vinte anos mais tarde pude realizar este sonho. Desci de bicicleta a estrada de manutenção do complexo Ecovias. Desci devagarzinho, fotografando e saboreando cada trechinho com o qual eu sonhei tanto em um dia estar. Portanto, a primeira opção de roteiro é aquela com a qual você sempre sonhou. Este roteiro pode ser a sua primeira viagem, ou levar mais de 20 anos para acontecer, como no caso da Ecovias. Mas pode ter certeza que é que mais vai te marcar.
Eu confesso que não tenho paciência para ficar procurando trilhas na internet. Mas são ótimos locais para procurar roteiros, como o fórum Mochileiros.com. É um bom lugar para achar compania também, mas eu recomendo cuidado com seus amigos das internets. Não por ser perigoso, mas a chance de ficar amarrado a um mala por dias numa trilha é considerável. Uma excelente opção são os clubes de aventura, como o CAP (Centro Alpino Paulista) ou CEU (Centro Excursionista Universitário). Sei que existem muitos outros, mas sinceramente não os conheço. São uma excelente opção para você conhecer gente muito bacana e experiente.
Considere que mesmo na maior parte dos lugares remotos há sempre alguma habitação. Se você não saltar de um helicóptero no meio da mata, mas sim chegar lá de busão ou por uma estradinha de terra, é muito provável que existam trilhas nas redondezas. Foi assim no caso de Pindamonhangaba e Ilha Bela, em que eu fui sem conhecer muito e ao chegar lá me informei com os moradores locais onde havia trilhas. Claro que eu fiz um trabalho prévio de comprar cartas topográficas, mapear a região através do Google Earth e colocar tudo no GPS: eu não estava à deriva. Caso essa viagem de exploração não der certo, não se frustre: o objetivo é ir e não chegar. Então, se você tem curiosidade sobre algum lugar, não se prenda: procure mais informações e meta as caras. E saiba que é bem provável que você tenha que voltar lá mais de uma vez.
Já que navegar é preciso, conhecer mapas é essencial. Para fazer seus próprios caminhos, você precisa saber as regras, portanto repito meu mantra: aprenda a ler cartas topográficas, usar bússola, se possível adquira um GPS e saiba usá-lo. Sabendo os meandros da navegação, você poderá entrar e sair do mato a hora que quiser. É extremamente necessário, mas também não tenha pressa: é uma arte que requer experiência. E nada mais legal do que apontar um local no mapa e em seguida conhecê-lo ao vivo. Em tempos de Google Earth, essa pode ser uma opção para lá de divertida. Tracklogs procurados na internet são de grandessíssimo valor nessa hora.
Finalmente, você pode fazer os roteiros clássicos: Chapada Diamantina, Ponta da Joatinga (em Paraty), Chapada dos Veadeiros, Serra do Órgãos, Pico do Itatiaia, Pico dos Marins, entre muitos outros. São lugares certamente espetaculares, mas eu não recomendo ir em épocas de alta temporada, como Natal, Revéillon ou Carnaval. Acabam ficando superpopulados, tornando um inferno achar um bom lugar para acampar, o que, somado ao barulho, tira a graça da estadia. Temos um país tão grande, com lugares tão belos e inexplorados, para que servir-se de mais do mesmo? Sem contar o prazer de conhecer o desconhecido e não gerar ainda mais impacto em uma área já muito visitada.
No que se refere aos roteiros clássicos, há opções que não acabam mais. Os livrinhos do meu querido Guilherme Cavallari são soberbos: os roteiros descritos de modo que basta um cronômetro para fazer todos os roteiros! Eu estive na Serra Fina há pouco tempo e levei o livrinho. Deu uma baita ajuda!
Por um tempo, eu fiquei bastante paranóico com relação à assaltos. Em Pindamonhangaba, peguei um ônibus de linha lotado, e percebi que eu chamava bastante atenção (ou seria mesmo paranoia?). Tinha certeza que aquele dia eu iria me despedir da minha mochila, mas dei sorte. Se você não conhece o local, não dê bandeira. Seja o mais discreto possível. E, é claro, dê preferência por locais menos urbanizados. Pode-se dizer que quanto menor a cidade, mais segura ela será. E acredito que é justamente esses lugares que devemos procurar para nossas aventuras. ?