equipamentos
Quando a gente esquece
por Lex em 12/Nov/2010, sobre equipamentos
O que é um bom equipa para você? Certamente é aquele que está sempre contigo nas aventuras, debaixo de chuva ou de sol. É especialmente aquele que está contigo desde que começou a trilhar, há um bom tempo atrás. Há pouco tempo eu “virei” todo meu equipa de aventura: com a aquisição da minha nova mochila e barraca nenhum equipamento com que eu me aventuro hoje é aquele mesmo que começou comigo. E no caso destes dois primeiros, eu deixei de usá-los com um aperto no coração. Dobrei carinhosamente a barraca (toda manchada de sangue dos borrachudos assassinados nas paredes), e a mochila eu vou mandar costurar e finalmente pendurá-la na lojinha.
Nenhum dos meus primeiros itens era de uma marca top. De quase ninguém é. A barraca era uma chinesa distribuída pela Capri e a mochila, uma Trilhas&Rumos. Eles duraram mais de 10 anos! Nesse período eu tive tantos outros equipamentos que nem me arriscaria a contar: headlamps, bastões de caminhada, meias, roupas, camel backs, pratos, isolantes, panelas… eu fico me perguntando porque alguns duram tanto tempo a mais. Simplesmente não há resposta, acho que é tentativa e erro mesmo. Tive uma headlamp a dínamo que durou exatamente 4 horas: foi o tempo de eu sair com ela da loja, chegar ao meu destino e em 5 minutos uma chuvinha tola a matou afogada. Muitos equipas nem cogito em reclamar para o vendedor, afinal, foi mau uso meu. E assim vou experimentando e descobrindo o que é bom e o que é ruim.
Voltando a minha antiga mochila, com as devidas costuras e updates ela fica pronta para outra. Mas porque eu a troquei? Durante a caminhada, a barrigueira já gasta não tinha a mesma maciez de antes, machucava com grandes cargas. O acolchoado das costas, idem. A barraca, toda vez em que dormia nela ficava com vergonha de mim mesmo de tantas marcas de sangue espalhadas pela parede, e algumas goteiras em dias de chuva mais forte. Dou risada quando lembro de mim sozinho recortando e colando com silvertape sacolinhas de mercado para conter uma goteira (depois daquele dia fiz uma reforma com impermeabilizante). Um bom equipa passa despercebido, seu uso deve ser sempre confortável e ele deve cumprir invisivelmente a função para qual foi projetado. Você deve esquecer que ele existe.
Claro que isso vale para os equipas novos também. E um que passou a sua vida inteira me incomodando foi um maldito boot da Salomon. Até hoje não sei se ele é mesmo uma merda ou se eu escolhi o modelo errado (sei que ele era para montanha gelada). Também era apertado, porque o boot que tinha antes (um BullTerrier, muito confortável) laceou a valer, até demais, e eu queria um boot na medida certa. Então, anote: bons boots de caminhada não laceiam. Depois de quatro horas de subida no Pico do Corcovado em Ubatuba, com o Snake de um amigo (no tamanho certo), fiquei surpreso ao perceber que pela primeira vez eu apenas me preocupava em continuar andando e não sobreviver à dor insuportável nos meus pés. Comprei um snakão para mim e na Chapada Diamantina tive uma performance que nunca tive antes.
E com um boot maldito que foi o Salomon, nem me deu vontade de testar o excelente par de meias Lorpen que recebi do pessoal gente finésima da ProAtiva. Finalmente coloquei a Lorpen junto com o snakão e fui muito, mas muito feliz. Mario Nery já fez um excelente review técnico desta meia e nem vou entrar em detalhes. Vou dizer minha impressão: eu não notei sua existência. Mas ela ajudou a notar todas as outras meias e boots que usei no passado e dei risada do masoquismo que me submeti. A forma como a meia envolve seu pé nos lugares certos, aliada ao excelente boot, me fizeram andar 18 quilômetros em apenas 6 horas, em trilha difícil, com muitas subidas e descidas, e é claro, com o mochilão carregado às costas. A sua eficiência está comprovada na prática.
Uma das últimas coisas que adquiri para o meu portfólio foram roupas técnicas. São itens caros e, convenhamos, não parece que compensa gastar nelas como uma lanterna ou um bastão de caminhada. “Roupa é apenas roupa”, eu pensava e tenho certeza que muita gente também. Errado. As calças de tactel que comprava nos camelôs do Brás foram minha primeira certeza que uma boa roupa técnica poderia valer a pena. É que pagar R$200 numa peça não me agradava muito. Hoje eu posso dizer que está tudo mais barato, mas há 5 ou 10 anos atrás, era coisa para poucos. As camisetas de crepe de poliamida que só havia por R$100 na Track&Field e hoje a compro por R$20 na Líquido. Sempre invejei quando via alguém com uma calça da By, sabia que ao ter uma estaria vestido a caráter para a minha atividade. E estaria com uma roupa que me daria uma liberdade muito maior de movimentos ou teria uma durabilidade acima da média. Enquanto isso não acontecia, sofria com calças cargo de lona grossa (para aguentar a impiedosa ferrovia) ou passava situações ridículas em lojas de academia procurando um legging para escalar (aliás, a diferença incomparável é que o legging masculino tem um cordãozinho na cintura).
Sendo caro ou barato, industrial ou caseiro, famoso ou desconhecido, seu equipamento (roupas inclusas) deve te deixar à vontade para chegar onde você quiser chegar. E, é claro, voltar. No percurso de descoberta deles você terá algumas surpresas, esteja pronto para elas (leia-se: “leve silvertape”). E não se irrite quando um boot abrir o solado, ou uma mochila estourar, o velho ditado em aventura muitas vezes é lembrado: “o barato pode sair caro”. Não estamos falando necessariamente de preço. Estamos falando de ser um cliente pentelho nas lojas, testar bem antes de sair de casa, olhar todos os detalhes e principalmente comparar a concorrência. Salvo em algumas poucas lojas, nunca acreditar no vendedor. E quando você menos esperar, terá uma pequena lojinha de equipamentos particular ?