equipamentos
GPS
por Lex em 04/Sep/2009, sobre equipamentos
Global Positioning System é uma dádiva da tecnologia. Por muitos anos foi muito caro e aventureiros bons em navegação torciam o nariz pois não queriam confiar suas vidas em um aparelhinho dependente de pilhas. Não tiro a razão deles… mas a tecnologia atual está tão confiável (e o melhor, barata) que eu acho o aparelhinho indispensável. Mas ao ler este artigo, tenha uma coisa em mente: se você está acostumado com o GPS do seu carro, que lhe diz exatamente aonde ir, no agreste a coisa é bem diferente. Ele é uma ferramenta de localização valiosa, mas que não substitui o seu julgamento e a necessidade de muito treinamento.
No momento em que escrevo este artigo, temos 30 satélites para o envio de sinal de GPS em funcionamento. Eles emitem um sinal aberto, que qualquer civil com um aparelho receptor pode decodificar. Traduzindo: o sistema é gratuito. O receptor de GPS recebe o sinal de vários satélites, e se pelo menos 3 deles estiverem em uma formação triangular, através de complexas equações aritméticas o aparelho irá calcular sua latitude e longitude (e se possível altitude) em nosso planeta. Não se iluda: é comum ficar sem sinal em um vale ou mata muito fechada.
O sistema entrou em atividade em 1978, inicialmente para uso militar, depois na aviação civil e finalmente para uso doméstico. Há alguns anos, a faixa doméstica era poluída com um ruído intencional, de modo a piorar a precisão (temia-se que o sistema fosse usado pelos inimigos dos EUA), mas isso já foi abolido. A precisão atual, que depende do receptor e do local onde se está é de um raio que pode variar entre 100 e 5 metros. Não muito tempo atrás, o receptor era um artigo caro, e normalmente usado para aplicações muito específicas (navegação no mar, resgate, grandes expedições…). Mesmo quando comprei meu receptor, no final de 2004, era um equipamento raro entre os aventureiros.
Finalmente chegamos a 2009! Receptores de GPS “explodiram” no mercado, barateando seu custo devido a quantidade produzida. Mas os aparelhos que encontramos à disposição quase sempre são os automotivos: eles têm mapas de ruas, falam e não são à prova d’água. Nós, aventureiros, precisamos de receptores de GPS específicos para as nossas necessidades. Os receptores embutidos nos smartphones são uma excelente opção, desde que sejam usados com o software adequado. O meu eTrex Venture está velhinho e estou louco para aposentá-lo e em seu lugar colocar um iPhone da segunda ou (melhor ainda) terceira geração.
Qualquer que seja o escolhido, a parte chata (como em todo aparelho eletrônico) é a fonte de energia. Com boas pilhas alcalinas (costumo usar a Duracel Alcalina Ultra) ele dura entre 6 e 12 horas, ou seja, um ou dois dias de caminhada, com ele ligado o tempo todo. Em viagens de muitos dias o deixo ligado somente quando preciso consultar minha localização. Para um final de semana, gosto de deixá-lo ligado constantemente, capturando assim todo o caminho pelo qual estou trilhando para poder documentá-lo e disponibilizá-lo aqui no blog. Uma coisa legal que eu fiz foi um dínamo com o qual eu carrego as pilhas na manivela (tanta tecnologia e eu voltando aos tempos da manivela, quem diria). Em minha última viagem à Paraty, passei duas semanas com apenas 2 pilhinhas recarregáveis. Para os smartphones (principalmente o iPhone, cuja bateria não é removível), a única solução é um carregador solar: já via alguns modelos e gostei muito.
Em se tratando do que é possível fazer com um GPS, vou comentar somente o básico, dados tantos recursos de tantos aparelhos diferentes. O principal é o receptor adquirir latitude, longitude, horário e se possível altitude. No caso do meu receptor, ele atualiza essas informações a cada um segundo. Se o aparelho fizesse unicamente isso já estaria excelente, mas pense no aparelho como um computador portátil. Neste caso eu posso guardar em sua memória os chamados “waypoints”, que são marcações de lugares.
Outro recurso pra lá de útil são os tracklogs. Lembra-se que na sua infância havia aquela brincadeira de ligar os pontinhos na sequência numérica e o resultado era uma figura? Os tracklogs são basicamente isso, vários “waypoints” espaçados entre si que delineiam um caminho a ser percorrido.
Lembrando que todo GPS tem uma conexão com o computador e, utilizando um software adequado para enviar e receber tando waypoints quanto tracklogs do receptor, temos algumas opções:
- Ir ao lugar com seu aparelho de GPS e gravar os waypoints e tracklogs: útil para você guardar as caminhadas que você andou fazendo por aí e distribuir para os amigos via e-mail ou web
- Mapear seus próprios tracklogs no Google Earth e, com isso, poder visitar mais tarde lugares que você desejava mas não tinha maiores informações para aventurar-se. Já fiz isso algumas vezes em que não consegui adquirir o mapa do local
- Baixar caminhos já percorridos, documentados e disponibilizados na internet. Há algum tempo não faço uma busca por sites que disponibilizam arquivos de GPS, mas já fiz muito isso. Aliás, faz parte do planejamento de qualquer viagem procurar arquivos de GPS que tenham trilhas, pontos de água, lugares para acampar etc…
- Com um mapa: durante uma aventura, você pode achar um alvo a ser alcançado na carta topográfica e transferir suas coordenadas para o receptor, de modo que você possa seguir este waypoint
- Também com um mapa: o contrário, ter um determinado ponto no aparelho (como sua localização atual) e olhar no mapa onde está. Isso é essencial durante uma caminhada pois como a memória e a tela do aparelho são limitadas, uma carta topográfica é essencial para se obter uma visão muito mais ampla do local (como topografia e acidentes naturais não documentados no receptor). Esse é o método que mais utilizo em minhas viagens
Você percebe o mundo de possibilidades que se abre quando utilizamos todas essas tecnologias em conjunto? Pense na seguinte história:
Zé Matos é um cara experiente em trilhas. Ele foi para Ilha Grande, e com seu GPS marcou toda a sua viagem: tracklog completo, pontos onde acampou, lugares onde achou água e até casas de moradores locais. Como ele é um cara legal, ao chegar em casa fez o download desses dados de seu receptor e disponibilizou o arquivo na internet. Claudia Penas está começando suas trilhas e gostaria muito de conhecer a Ilha Grande, mas não sabe exatamente que caminho fazer, onde pode encontrar água e onde há uma boa clareira para acampar. Com a ajuda do arquivo disponibilizado pelo Zé Matos ela carrega seu GPS com os dados coletados pelo seu amigo e poderá fazer sua aventura com muito mais comodidade e segurança, e sem deixar de lado o aspecto aventura.
Os softwares que uso atualmente são o Google Earth (que você já deve conhecer bem) e o GPS TrackMaker. Através do Google Earth posso ter uma visualização real de como é a área a ser explorada. Muitas vezes acabo fazendo tracklogs e waypoints de referência de rios, praias, lagos, montanhas. Ou: importo para ele trilhas feitas por mim para eu poder ter uma ideia de onde passei e o que tem lá perto, para uma próxima incursão. Quanto mais você visita determinada área, mais detalhes você tem de lá, por isso é tão importante ir marcando bem esses pontos de interesse durante a sua viagem.
Devido o fato que o Google Earth só “conversa” com receptor em sua versão paga, eu utilizo o GPS TrackMaker para conectar ao meu aparelho, baixando os dados registrados em sua memória ou enviando-lhe novos dados à véspera de alguma aventura. Através dele também faço alguns ajustes finos no arquivo gerado e importado do Google Earth, como a escolha de ícones que meu GPS consiga compreender.
Ouvi dizer que o software (pago) Garmin MapSource (do mesmo fabricante do meu receptor) é muito bom, mas eu nunca o testei. Vale a pena conferir. Todo este trâmite entre o receptor de GPS, Google Earth, TrackMaker e carta topográfica não costuma dar muitos erros de precisão, mas tem que se tomar cuidado com algumas configurações, especialmente um tal de datum. Já tive erros de uns 100 metros entre mapeamento de Google Earth e confirmando com o GPS no local, ainda estou aprendendo como corrigir isso.
Geolocalização e tooodas as ferramentas com que contamos é um assunto extenso e complicado. Você pode perceber que eu falei das possibilidades desse fantástico aparelho sem entrar muitos detalhes técnicos e mesmo assim este post ficou gigante. Certamente isso daria um livro (razoavelmente grosso), e há alguns bons à disposição nas lojas de aventura. Com um aparelho de GPS e estando bem treinado em geolocalização você pode entrar e sair do mato a hora que quiser. Não precisará se preocupar tanto com guias, poderá conferir se está indo para o local desejado, e mesmo se não estiver, terá condições de voltar. Poderá ir muito mais longe e beneficiar mais pessoas ao compartilhar sua biblioteca de lugares.
P.S.: se você gostou deste post, no próximo artigo (que já está em edição) falarei sobre a mistura de fotografia com GPS