GPS
Global Positioning System é uma dádiva da tecnologia. Por muitos anos foi muito caro e aventureiros bons em navegação torciam o nariz pois não queriam confiar suas vidas em um aparelhinho dependente de pilhas. Não tiro a razão deles… mas a tecnologia atual está tão confiável (e o melhor, barata) que eu acho o aparelhinho […]
por Lex em 04/Sep/2009
Revisado por: Vê Mambrini
Global Positioning System é uma dádiva da tecnologia. Por muitos anos foi muito caro e aventureiros bons em navegação torciam o nariz pois não queriam confiar suas vidas em um aparelhinho dependente de pilhas. Não tiro a razão deles… mas a tecnologia atual está tão confiável (e o melhor, barata) que eu acho o aparelhinho indispensável. Mas ao ler este artigo, tenha uma coisa em mente: se você está acostumado com o GPS do seu carro, que lhe diz exatamente aonde ir, no agreste a coisa é bem diferente. Ele é uma ferramenta de localização valiosa, mas que não substitui o seu julgamento e a necessidade de muito treinamento.
No momento em que escrevo este artigo, temos 30 satélites para o envio de sinal de GPS em funcionamento. Eles emitem um sinal aberto, que qualquer civil com um aparelho receptor pode decodificar. Traduzindo: o sistema é gratuito. O receptor de GPS recebe o sinal de vários satélites, e se pelo menos 3 deles estiverem em uma formação triangular, através de complexas equações aritméticas o aparelho irá calcular sua latitude e longitude (e se possível altitude) em nosso planeta. Não se iluda: é comum ficar sem sinal em um vale ou mata muito fechada.
O sistema entrou em atividade em 1978, inicialmente para uso militar, depois na aviação civil e finalmente para uso doméstico. Há alguns anos, a faixa doméstica era poluída com um ruído intencional, de modo a piorar a precisão (temia-se que o sistema fosse usado pelos inimigos dos EUA), mas isso já foi abolido. A precisão atual, que depende do receptor e do local onde se está é de um raio que pode variar entre 100 e 5 metros. Não muito tempo atrás, o receptor era um artigo caro, e normalmente usado para aplicações muito específicas (navegação no mar, resgate, grandes expedições…). Mesmo quando comprei meu receptor, no final de 2004, era um equipamento raro entre os aventureiros.
Finalmente chegamos a 2009! Receptores de GPS “explodiram” no mercado, barateando seu custo devido a quantidade produzida. Mas os aparelhos que encontramos à disposição quase sempre são os automotivos: eles têm mapas de ruas, falam e não são à prova d’água. Nós, aventureiros, precisamos de receptores de GPS específicos para as nossas necessidades. Os receptores embutidos nos smartphones são uma excelente opção, desde que sejam usados com o software adequado. O meu eTrex Venture está velhinho e estou louco para aposentá-lo e em seu lugar colocar um iPhone da segunda ou (melhor ainda) terceira geração.
Qualquer que seja o escolhido, a parte chata (como em todo aparelho eletrônico) é a fonte de energia. Com boas pilhas alcalinas (costumo usar a Duracel Alcalina Ultra) ele dura entre 6 e 12 horas, ou seja, um ou dois dias de caminhada, com ele ligado o tempo todo. Em viagens de muitos dias o deixo ligado somente quando preciso consultar minha localização. Para um final de semana, gosto de deixá-lo ligado constantemente, capturando assim todo o caminho pelo qual estou trilhando para poder documentá-lo e disponibilizá-lo aqui no blog. Uma coisa legal que eu fiz foi um dínamo com o qual eu carrego as pilhas na manivela (tanta tecnologia e eu voltando aos tempos da manivela, quem diria). Em minha última viagem à Paraty, passei duas semanas com apenas 2 pilhinhas recarregáveis. Para os smartphones (principalmente o iPhone, cuja bateria não é removível), a única solução é um carregador solar: já via alguns modelos e gostei muito.
Em se tratando do que é possível fazer com um GPS, vou comentar somente o básico, dados tantos recursos de tantos aparelhos diferentes. O principal é o receptor adquirir latitude, longitude, horário e se possível altitude. No caso do meu receptor, ele atualiza essas informações a cada um segundo. Se o aparelho fizesse unicamente isso já estaria excelente, mas pense no aparelho como um computador portátil. Neste caso eu posso guardar em sua memória os chamados “waypoints”, que são marcações de lugares.
Outro recurso pra lá de útil são os tracklogs. Lembra-se que na sua infância havia aquela brincadeira de ligar os pontinhos na sequência numérica e o resultado era uma figura? Os tracklogs são basicamente isso, vários “waypoints” espaçados entre si que delineiam um caminho a ser percorrido.
Lembrando que todo GPS tem uma conexão com o computador e, utilizando um software adequado para enviar e receber tando waypoints quanto tracklogs do receptor, temos algumas opções:
- Ir ao lugar com seu aparelho de GPS e gravar os waypoints e tracklogs: útil para você guardar as caminhadas que você andou fazendo por aí e distribuir para os amigos via e-mail ou web
- Mapear seus próprios tracklogs no Google Earth e, com isso, poder visitar mais tarde lugares que você desejava mas não tinha maiores informações para aventurar-se. Já fiz isso algumas vezes em que não consegui adquirir o mapa do local
- Baixar caminhos já percorridos, documentados e disponibilizados na internet. Há algum tempo não faço uma busca por sites que disponibilizam arquivos de GPS, mas já fiz muito isso. Aliás, faz parte do planejamento de qualquer viagem procurar arquivos de GPS que tenham trilhas, pontos de água, lugares para acampar etc…
- Com um mapa: durante uma aventura, você pode achar um alvo a ser alcançado na carta topográfica e transferir suas coordenadas para o receptor, de modo que você possa seguir este waypoint
- Também com um mapa: o contrário, ter um determinado ponto no aparelho (como sua localização atual) e olhar no mapa onde está. Isso é essencial durante uma caminhada pois como a memória e a tela do aparelho são limitadas, uma carta topográfica é essencial para se obter uma visão muito mais ampla do local (como topografia e acidentes naturais não documentados no receptor). Esse é o método que mais utilizo em minhas viagens
Você percebe o mundo de possibilidades que se abre quando utilizamos todas essas tecnologias em conjunto? Pense na seguinte história:
Zé Matos é um cara experiente em trilhas. Ele foi para Ilha Grande, e com seu GPS marcou toda a sua viagem: tracklog completo, pontos onde acampou, lugares onde achou água e até casas de moradores locais. Como ele é um cara legal, ao chegar em casa fez o download desses dados de seu receptor e disponibilizou o arquivo na internet. Claudia Penas está começando suas trilhas e gostaria muito de conhecer a Ilha Grande, mas não sabe exatamente que caminho fazer, onde pode encontrar água e onde há uma boa clareira para acampar. Com a ajuda do arquivo disponibilizado pelo Zé Matos ela carrega seu GPS com os dados coletados pelo seu amigo e poderá fazer sua aventura com muito mais comodidade e segurança, e sem deixar de lado o aspecto aventura.
Os softwares que uso atualmente são o Google Earth (que você já deve conhecer bem) e o GPS TrackMaker. Através do Google Earth posso ter uma visualização real de como é a área a ser explorada. Muitas vezes acabo fazendo tracklogs e waypoints de referência de rios, praias, lagos, montanhas. Ou: importo para ele trilhas feitas por mim para eu poder ter uma ideia de onde passei e o que tem lá perto, para uma próxima incursão. Quanto mais você visita determinada área, mais detalhes você tem de lá, por isso é tão importante ir marcando bem esses pontos de interesse durante a sua viagem.
Devido o fato que o Google Earth só “conversa” com receptor em sua versão paga, eu utilizo o GPS TrackMaker para conectar ao meu aparelho, baixando os dados registrados em sua memória ou enviando-lhe novos dados à véspera de alguma aventura. Através dele também faço alguns ajustes finos no arquivo gerado e importado do Google Earth, como a escolha de ícones que meu GPS consiga compreender.
Ouvi dizer que o software (pago) Garmin MapSource (do mesmo fabricante do meu receptor) é muito bom, mas eu nunca o testei. Vale a pena conferir. Todo este trâmite entre o receptor de GPS, Google Earth, TrackMaker e carta topográfica não costuma dar muitos erros de precisão, mas tem que se tomar cuidado com algumas configurações, especialmente um tal de datum. Já tive erros de uns 100 metros entre mapeamento de Google Earth e confirmando com o GPS no local, ainda estou aprendendo como corrigir isso.
Geolocalização e tooodas as ferramentas com que contamos é um assunto extenso e complicado. Você pode perceber que eu falei das possibilidades desse fantástico aparelho sem entrar muitos detalhes técnicos e mesmo assim este post ficou gigante. Certamente isso daria um livro (razoavelmente grosso), e há alguns bons à disposição nas lojas de aventura. Com um aparelho de GPS e estando bem treinado em geolocalização você pode entrar e sair do mato a hora que quiser. Não precisará se preocupar tanto com guias, poderá conferir se está indo para o local desejado, e mesmo se não estiver, terá condições de voltar. Poderá ir muito mais longe e beneficiar mais pessoas ao compartilhar sua biblioteca de lugares.
P.S.: se você gostou deste post, no próximo artigo (que já está em edição) falarei sobre a mistura de fotografia com GPS
23 comentários neste post
2 Trackbacks / Pingbacks para este post
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Rotas 3D com o Google Earth e o GPS TrackMaker | Trekking Brasil
25/Sep/2011 as 21:53[…] ótimo texto complementar que eu achei no blog do Blagus: http://blog.blag.us/gps/ (a versão de quem usa um […]
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O futuro do futuro | Ao Sugo
17/Oct/2012 as 15:42[…] visto no filme Planeta Vermelho (Red Planet, 2000) 2: Tracklog é um plano vetorial usado em softwares de GPS 3: Big Dog é o mirabolante projeto de um cargueiro quadrúpede militar encomendado […]
04/Sep/2009 as 16:46
Como sempre genial.
A primeira foto tá sensacional, só discordo que haja algo que não pertença à cena… hahahaha
04/Sep/2009 as 17:05
Valeu ! O legal dessa cena é ver o GPS tijolão que eu andava (era emprestado).
05/Sep/2009 as 02:28
O sol ainda nasce e se põe e as estrelas ainda estão no céu, as bússolas reais ainda funcionam e os mapas de papel ainda podem ser marcados com canetas.
E é bem mais divertido, barato e ecológico.
05/Sep/2009 as 10:49
Poético ! E bastante coerente. Quase dá vontade de parar de usar meu GPS. Mas… hum… não. 🙂
Aliás, não diria para qualquer pessoa deixar em casa a bússola, carta topográfica e caneta…
abraços e obrigado pela visita !
05/Sep/2009 as 18:17
Olá Lex!
Excelente artigo, muito bem escrito e didático. Parabéns.
O datum é um parâmetro que leva em consideração a forma da terra. O datum que o googleearth utiliza é o WGS84 e o que a gente usa comumente no Brasil é o SAD69. Tem que corrigir no GPS.
Abraços.
http://www.campingselvagem.com.br
06/Sep/2009 as 17:59
Eu quis fazer isso mesmo, um artigo bem prático sem entrar em muitos detalhes técnicos e que principalmente não focasse só no aparelho. Acredito que essa tecnologia nos proporcione muito mais coisa do que somente localizar-se.
Obrigado pela dica do datum !
abraços
10/Sep/2009 as 18:44
Belo post.
É verdade Lex, quanto ao iphone, estou com um N95 mas sempre prefiro levar o etrex.
Abraço
10/Sep/2009 as 19:27
Meu caro Esdras !
Acho Symbian um sistema operacional péssimo (aguardo apedrejadas) e nunca ouvi falar de um bom software nesta plataforma que atenda nossas necessidades
abraços !
15/Sep/2009 as 09:42
Se fosse em LOST, nada disso funcionaria… hehehe
15/Sep/2009 as 11:46
Mancada técnica em Lost: não dá para bloquear um sinal de GPS? pelo menos não facilmente, e não por terra
15/Sep/2009 as 18:43
Meu prezado amigo, saúde.
onde eu consigo baixar cartas topográficas grátis?
atenciosamente,
newtonzinho.
15/Sep/2009 as 19:50
Olá meu caro Newtonzinho !
Honestamente: não sei. Mas observe algumas dicas:
1. Cartas topográficas são diferentes de tracklogs. E cartas topográficas é algo que eu prefiro em papel dada a quantidade de detalhes e as telas dos dispositivos eletrônicos atuais ainda são incômodas para ver um mapa topográfico completo. Pense se o que você quer são cartas topográficas ou arquivos com waypoints e tracklogs (normalmente KML, KMZ ou GTM). Vou usar o termo “arquivo GTM” para generalizar. Observe a definição: cartas topográficas são mapas com linhas de altitude que quase nunca têm uma determinada trilha documentada. E arquivos GTM são arquivos que não possuem a topografia de um terreno, mas provavelmente indicam a(s) trilha(s) (tracklog) e pontos de interesse (em waypoints) em determinado lugar. O que eu costumo fazer é colocar o tracklog que eu baixei na internet no Google Earth e estudar o terreno. Depois disso compro a carta topográfica (em papel) e carrego o arquivo GTM no meu receptor GPS (que é um modelo velhinho e não tenho como colocar uma carta topográfica digital nele). Então você pode concluir que também é uma questão de tecnologia, se o receptor de GPS você possui aceita cartas topográficas digitais.
2. Quando eu quero achar alguma trilha, procuro no Google. Há sites (em forma de comunidade) que disponibilizam muitos GTMs e outros (como o meu) só alguns de regiões especificas que o “dono” do site fez e disponibilizou. Procure no Google pelo lugar que você quer, adicionando palavras como “arquivo de GPS”, KML, KMZ, GTM, “baixar tracklog” e outras variações de busca. Eu tinha alguns sites anotados há alguns anos, mas perdi a referência. Dica: explore o site do produtor do software GPS TrackMaker que lá existem alguns GTMs disponíveis
3. Não deixe de compartilhar suas descobertas conosco ! Por mais que eu escreva este blog, não sou o dono da verdade e tenho muuuito o que aprender ! E se minha resposta lhe confundiu ainda mais, não deixe de ler um livro a respeito. Sei que esse é um assunto bastante técnico e tem milhares de detalhes.
abraços
08/Jan/2010 as 14:19
compare preço de varios tipos de Gps no site:
http://www.cotacota.com.br/preco/GPS_preco.asp
09/Jan/2010 as 12:21
Bruno, os GPSs em exposição no Cota-cota são GPSs automotivos, pelo que você pode ler no artigo não interessa aos aventureiros
29/Aug/2010 as 19:34
Lex, por curiosidade, quanto tempo de manivela no dínamo até dar uma carga completa nas pilhas? E existe algo similar no mercado?
Acho que esse seu gadget merecia uma postagem dedicada só pra ele.
Parabéns pelo ótimo blog!
24/Sep/2010 as 10:16
Oi Alessandro!
Essa manivela já quebrou há algum tempo, estou para arrumar um tempinho para comprar um painel solar. Quando usei a manivela, ficava uns 15 minutos (de relógio mesmo) manivelando para poder usar o GPS o dia inteiro seguinte. Era prático por não carregar pilhas, mas um saco ficar manivelando. Voltando ao painel solar, já sei que em muito breve haverá um modelo comercial disponível no mercado.
abraços!
16/Aug/2012 as 15:34
Lex, sei que o post é velho, mas espero que não se importe em me responder um pergunta, talvez até pessoal, qual o GPS que você me indica? Que não passe de 200 dolares, novo.
abrçs
Luis
17/Aug/2012 as 10:07
Opa! Luis, o post tem três anos mas com corpinho de um. GPS não tem muita opção, escolha algum Garmin eTrex e seja feliz!!
18/Aug/2012 as 16:12
Lex, tem problema comprar usado pelo ebay? Você acha que ele funcionará aqui no Brasil também?
20/Aug/2012 as 11:20
Problema algum, GPS funciona da mesma forma em todo lugar. Talvez na Rússia a cobertura seja um pouco menor porque eles tem outro sistema de navegação por lá, mas vai funcionar mesmo assim. Se for para comprar usado, sempre compre um da série H, porque ele tem uma nova antena muito mais sensível; cuidado para não pegar um da geração antiga. Desconfio que seja melhor pegar um novo mais simples do que um bom usado; parece que com o tempo eles vão perdendo a sensibilidade (pode ser impressão minha).
23/May/2015 as 21:53
Olá Lex!
Vou passar férias com a família na Chapada Diamantina.
Qual o software que você considera ideal para as trilhas (GPS Garmin 78sc)?
Grato.
Marcos.
28/Jan/2016 as 18:50
Eu alterno entre GPS TrackMaker (Windows), Garmin MapSource (Mac) e Google Earth.
24/Nov/2018 as 18:11
Excelente texto